EDUCAÇÃO: uma nova abordagem da educação sexual, por Marina Lemos de Freitas
Quem segue o meu blog sabe que irá encontrar “news” sobre moda, beleza, bem estar, gastronomia e eventos.
Algumas vezes já fiz alguns posts pessoais e tenho tido vontade de escrever alguns posts sobre educação e comportamento também.
É uma idéia que estou amadurecendo e breve vocês terão novidades.
Neste post especificamente, pensando a respeito desta era do “amor líquido” em que as relações sociais e amorosas parecem efêmeras e descartáveis, entrevisto com exclusividade a educadora Marina Lemos de Freitas, do Instituto de Educação e Cultura Viktor Frankl.
Ela propõe uma nova abordagem da educação sexual em seu livro Educação integradora da sexualidade humana – resgate do sentido do amor, que acaba de ser lançado.
“Hoje, não temos mais uma repressão sexual, mas sim existencial, do sentido do amor!
Portanto, antes mesmo de falar sobre prevenção e o ato sexual, precisamos abordar o sentido do amor”, diz a autora.
Nesta entrevista ela fala sobre uma nova abordagem do tema com crianças e adolescentes, talvez um dos momentos mais delicados da maternidade e da paternidade.
Confiram:
– A quem cabe a educação sexual, à escola ou à família?
A educação sexual, em primeira instância, cabe à família, que deve transmitir seus valores, sua cultura, suas tradições. Em segunda instância, à escola, que é uma grande colaboradora da família. Percebemos que em algumas situações, a família sente dificuldade em tratar sobre esse tema com os filhos, entrando aí um importante papel da escola e da necessidade de diálogo constante entre família e escola. Quanto mais escola e família forem parceiras, cada uma respeitando suas funções e limites, mas benefícios terão os filhos, alunos.
– Quando o assunto deve ser tratado com a criança/adolescente?
A educação sexual completa é aquela que abre caminho para uma vivência plena do sentido do amor, uma vivência feliz da sexualidade. E isso deve começar desde o nascimento, talvez, desde a gestação!
Como? Quando educo a criança com amor, já estou proporcionando-lhe a experiência de ser amada. Mas isso não basta, pois poderia criar alguém narcisista e egoísta; preciso ensiná-la a amar, pois quem não sabe amar, nunca conseguirá uma vivência plena da sexualidade. Mas ainda não basta, devemos ensinar nossos filhos e alunos a ter coragem de sofrer, isto é, a enfrentar as dificuldades e desafios sem desistir, para que atinja a maturidade da vivência da sexualidade.
Com esta preparação contínua para a vivência do amor, devo falar sobre sexualidade e sexo quando a criança perguntar e somente o que ela perguntar, sempre falando a verdade. Já com o pré-adolescente, pela grande influência dos meios de comunicação e pela erotização precoce tão disseminada, creio que por volta dos 10 anos os pais devem proporcionar, em um ambiente de diálogo, um momento propício para falar da beleza do amor e do sexo, do zelo pelo próprio corpo, do respeito pela pessoa do outro, enfim, do sentido do amor.
– De que forma a família deve abordar a questão?
Toda educação efetiva deve despertar a consciência para que a pessoa possa escolher com liberdade e responsabilidade, arcando com as consequências de suas escolhas. Portanto, a família deve estimular o adolescente a escolher como quer viver sua sexualidade, não pensando somente no agora, mas também no futuro. De forma geral, nossa vida, e também nossa sexualidade, podem estar orientadas pela busca do prazer, ou pela procura do poder e do dinheiro, ou para a busca e realização do sentido. Nas duas primeiras orientações, a outra pessoa é vista como um instrumento para o prazer ou para o poder, e a capacidade para enfrentar frustrações é pequena; na orientação para o sentido, para aquilo que tem valor, a outra pessoa é vista em sua dignidade e há o respeito ao próprio corpo e ao corpo do outro, a capacidade para enfrentar adversidades é grande, pois há um sentido.
Hoje, não temos mais uma repressão sexual, mas sim existencial, do sentido do amor! Portanto, antes mesmo de falar sobre prevenção e o ato sexual, precisamos abordar o sentido do amor.
– Em casa, quem fala sobre o tema, a mãe ou o pai?
A educação é função do pai e da mãe, um complementando o outro. Mas precisamos ter consciência de que nossos exemplos falam muito mais que nossas palavras.
– Na escola, qual é o melhor momento para tratar o assunto?
Como na família, desde a educação Infantil, quando ensinamos noções de higiene, pudor, cuidado com o próprio corpo, respeito ao coleguinha; quando educamos com amor, mas sem superproteção, oferecendo oportunidades para que a criança possa ajudar outros alunos. Quando em ciências é apresentado o corpo humano, sempre falar da beleza da procriação, da complementariedade, do respeito entre os sexos. De uma forma sistematizada, como proponho na Educação Integradora da Sexualidade Humana, o melhor momento que entendemos é no 6º ano, quando a maioria dos alunos já entra na pré-adolescência.
– De que forma a escola deve abordar a questão com os alunos?
Cada escola deve abordar a questão da sexualidade humana de acordo com sua filosofia e seu projeto pedagógico.
Oferecemos uma opção, fundamentada em Viktor Frankl, entendendo que a educação não deve somente transmitir conhecimentos, mas, sobretudo aguçar a consciência para que cada pessoa saiba escolher com liberdade e responsabilidade. Este é o principal objetivo da Educação Integradora da Sexualidade Humana, nossa proposta: instrumentalizar cada estudante para que ele possa escolher segundo sua própria consciência, de forma livre e responsável e atingir uma vivência plena e feliz da sua sexualidade.
Para isso, o programa contempla 34 encontros semanais de 50 minutos, dentro da grade curricular, para alunos do 6ºano do Ensino Fundamental, com tema, objetivos e estratégias para cada encontro. O conteúdo é distribuído em cinco Módulos:
- Conceito de pessoa segundo Viktor Frankl;
- Como melhorar minha autoestima;
III. Crescimento e desenvolvimento saudáveis;
- Relacionamentos;
- Sexualidade integrada e sexo seguro.
Os encontros são participativos e oferecem um espaço para os alunos refletirem sobre sua própria vida, esclarecerem dúvidas e apresentarem suas visões sobre cada tema.
– A senhora pode fazer um histórico da abordagem desse tema?
Falando sobre a “tipologia da educação sexual escolar no Brasil”, Nunes e Silva respectivamente Presidente e Ex-Vice-Presidente da ABRADES (Associação Brasileira de Educação Sexual), fazem, a partir de 1960, uma retrospectiva histórica dos modelos teóricos pelos quais as escolas atuaram na educação sexual, valorizando cada iniciativa, apontando para as mudanças necessárias e propondo um novo modelo, a Educação Sexual Emancipatória, que é um grande avanço em relação ao modelo vigente consumista-quantitativo, pois inclui a proposta de compreensão plena da sexualidade, e sua vivência com responsabilidade:
1º Normativa e parenética;
2º Médico-biologista;
3º Terapêutico-descompressivo;
4º Consumista-quantitativo;
5º Emancipatório.
Nossa proposta é a Educação Integradora da Sexualidade Humana.
– Qual é o objetivo do livro recentemente lançado pela senhora?
Diante do cenário atual da vivência da sexualidade, onde é constatado um esvaziamento e uma fragmentação desta vivência, culminando no que o sociólogo Bauman chama de “amor líquido” e Frankl de “inflação da sexualidade”, considero a necessidade de uma educação integradora da sexualidade humana, antropologicamente fundamentada, isto é, que considere a pessoa humana em sua completude, nas dimensões biológica, psicológica e noética ou espiritual. Como já disse, hoje não temos mais repressão sexual, mas sim, repressão existencial, que cerceia o anseio profundo da pessoa humana por um sentido na vida, pelo sentido do amor. O livro procura preencher essa lacuna, fornecendo subsídios teóricos e práticos para uma educação da sexualidade orientada para o sentido, para o resgate do sentido do amor.
– O que é a educação integradora e qual é sua relação com a sexualidade humana?
Educação Integradora da Sexualidade Humana é entendida como uma educação que, compreendendo a pessoa humana em suas dimensões biológica, psicológica e noológica, as integra na busca e na vivência plena do sentido do amor: na corporalidade, na afetividade e na existencialidade. Educação Integradora, pois inclui a dimensão especificamente humana, a dimensão noológica, noética ou espiritual, que brinda o sentido do sexo, da sexualidade, do amor. A capacidade de amar é condição e pressuposto da integração e da vivência feliz da sexualidade. Portanto, um dos primeiros objetivos da Educação Integradora da Sexualidade Humana é desenvolver, despertar, aguçar, a capacidade de amar, a arte de amar.
Acreditamos que uma educação integradora da sexualidade humana não é o caminho mais fácil nem para o educador e muito menos para o educando. É necessário que acreditemos na potencialidade do educando de chegar a uma síntese feliz em sua sexualidade, alcançando o sentido pleno do amor. Essa é uma condição inalienável do educador!
Este foi o primeiro de uma série de posts que desejo fazer na intenção de dar uma luz a diversas questões do universo das mães, sempre com o respaldo de um educador.
Beijos e até o próximo!!