Castanha Tipo Portuguesa: Tradicional nas festas de final de ano, alimento é nutritivo para integrar o dia a dia da população


Chegou dezembro e nas gôndolas dos supermercados, produtos que não estamos acostumados a encontrar ao longo do ano aguçam os sentidos e o paladar, evocando, para muitos, lembranças de reuniões de família e legados culturais. Entre as frutas da época, a castanha tipo portuguesa (sim, ela é considerada uma frutífera), com suas amêndoas marrons de alto potencial nutritivo, há alguns anos vem conquistando seu espaço.
 
“No Brasil, o comércio da castanha está atrelado às festividades de final de ano. Passada essa época, o consumo diminui, e se restringe, muitas vezes, aos apreciadores e descendentes de europeus e asiáticos que têm a castanha em sua alimentação cotidiana. Para mudar esse cenário, temos unido forças entre extensão rural, pesquisa, universidades e produtores, mostrando suas diversas formas de consumo e o seu potencial como alimento saudável”, comenta Silvana Catarina Sales Bueno, produtora de castanha e engenheira agrônoma que, por mais de 30 anos, atuou na Secretaria de Agricultura e Abastecimento, no Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS). A denominação “tipo portuguesa” vem da época da colonização, quando essas castanhas, oriundas da Península Ibérica ou Itálica, foram introduzidas no Brasil pelos portugueses.

A Secretaria, por meio da extensão rural, foi fundamental para que essa castanha passasse a ser cultivada em escala comercial. “No Brasil, o cultivo comercial de castanhas é recente e a década de 1980 foi marcante pelos experimentos e pesquisas do engenheiro agrônomo Takanoli Tokunaga e da equipe do Núcleo de São Bento do Sapucaí. Foram realizados diversos ensaios sobre compatibilidade de copa e porta-enxertos e o cruzamento entre variedades, os quais resultaram na produção de mudas de qualidade e geração de tecnologia adaptada às condições paulistas, mas que influenciaram a produção nacional”, relata Silvana, que acompanhou e deu continuidade a esse trabalho, junto com a equipe e outros parceiros, sendo, inclusive, coordenadora de publicação técnica editada pela CDRS.

Produtor de castanhas tipo portuguesa no sítio São João, localizado no município de Cunha, no Vale do Paraíba, Carlos H. J. Janela atesta a relevância dessas ações. “O trabalho dos extensionistas foi e continua sendo de suma importância. Em minha área, adquirida em 2005, produzo, junto com os meus filhos, chás desidratados e castanha, que tem potencial para se transformar na principal atividade. A decisão de produzi-la tem duas vertentes: afinidade com o fruto e estudo técnico comercial estimulado pelo Núcleo de São Bento de Sapucaí. Afinidade, por ter na família a tradição portuguesa de consumo de castanha e, pelo lado técnico, as conversações com os extensionistas que nos levaram a concluir que a castanheira é uma árvore rústica, que não demanda muito tratos culturais e tem boa oportunidade de mercado para substituir a importação da Europa”.

O produtor revela, no entanto, os desafios para ampliação da produção. “A forte concentração do consumo na festa natalina desvaloriza o produto nos meses subsequentes, nos quais a safra se estende, reduzindo consequentemente a rentabilidade. Adicionalmente, há necessidade de um trabalho vigoroso para aumentar a produtividade dos pomares no Brasil, pois, comparado a outros centros produtores, temos clara desvantagem”, afirma. Outro ponto importante se refere aos cuidados com o manejo. “A cultura demanda os tratos normais de um pomar, adubação, podas de limpeza e frutificação, tratamento fitossanitário e atenção na colheita, que deve ser diária, pois o fruto fica encapsulado no ouriço, o qual, quando maduro, cai ao chão, podendo estragar se não for colhido imediatamente. Há também necessidade de cuidar do pós-colheita, lavar, secar, embalar e manter o produto estocado em ambiente refrigerado”.

Nesse sentido, o produtor lembra da importância do trabalho da Secretaria. “Diante dos desafios, contamos com a CDRS para continuar nos orientando nas Boas Práticas Agropecuárias, principalmente em tratos culturais, bem como para desenvolver variedades compatíveis para polinização cruzada e aumentar a produtividade de nossos pomares”.

Mudas e publicações técnicas: insumos e conhecimento para aperfeiçoar a produção

Uma das contribuições da Secretaria de Agricultura tem sido a produção de mudas enxertadas, principalmente pelo método da garfagem. “Essa técnica permite a padronização das características das plantas e castanhas, além de adiantar a primeira safra, sendo, no entanto, recomendável retirar as flores pelo menos nos dois primeiros anos e iniciar a produção a partir do terceiro ou quarto ano, quando a planta já tem uma estrutura vegetativa para suportar a produção”, ensina Ednei Marques, diretor do Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí.

Antes de implantar a cultura, é recomendável realizar um bom controle de formigas e observar a melhor época de plantio, que é no início do período das águas, de setembro a novembro. “Nos últimos anos, temos visto um aumento na procura por mudas de castanhas, o que denota a expansão dos cultivos. Neste ano, foram produzidas e comercializadas cerca de duas mil mudas na Unidade. Para 2021, a expectativa é dobrar a produção para atender a demanda”, salienta o agrônomo, alertando para a importância do acompanhamento técnico para obter sucesso no plantio e manejo da cultura.
Outra ação realizada é a divulgação de conhecimento – do plantio à comercialização, incluindo a divulgação de receitas – por meio de publicações técnicas. O Boletim Técnico 246 – Castanha Tipo Portuguesa, cuja primeira edição foi lançada na década de 1990, e a segunda, ampliada e revisada, em 2015, tem embasado diversos estudos e esclarecido dúvidas de produtores de várias regiões, além de diversificar o consumo. Está disponível em www.cdrs.sp.gov.br.

Ao longo da última década, a Secretaria de Agricultura também tem intensificado as capacitações, Dias de Campo e seminários sobre as novas cultivares e tecnologias de plantio e pós-colheita, além de incentivar a organização dos envolvidos na cadeia. “Em nossos eventos destacamos, além das questões técnicas, informações sobre novos produtos a partir da castanha, bem como experiências de organização da cadeia produtiva de outros países, como o Japão, que teve um salto na produção, comercialização e consumo”, diz Silvana, que coloca esta ação como o start para a futura associação de produtores de castanha, que está sendo criada (ver detalhes abaixo).

Há ainda um projeto em rede que articulou ações da CDRS, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O resultado foi a caracterização dos frutos e das amêndoas de cultivares de castanheiro (Castanea spp.), desenvolvimento de tecnologia para colheita e pós-colheita e produção de subprodutos à base de castanhas, como a farinha”, ressalta Silvana, informando que a CDRS detém um banco de germoplasma com 17 cultivares, no Núcleo de São Bento do Sapucaí.

Para aquisição de mudas: Central de comercialização -WhatsApp (19) 99790-8824 / Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, respeitando os protocolos sanitários, a venda de mudas está sendo realizada por encomenda pelo telefone/ WhatsApp (12) 3971-1306 e e-mail: npmsaobentodosapucai@sp.gov.br, com retirada condicionada ao agendamento prévio.

Organização da cadeia e investimento em tecnologia

Segundo o produtor Carlos Janela, para aumentar a participação no mercado nacional é necessário trabalhar a imagem de qualidade da castanha produzida no Brasil para substituir a importada. “Além disso, precisamos promovê-la como o alimento saudável que efetivamente é, valorizar seu consumo in natura e processado, o qual permite a utilização em variados produtos e receitas”, diz. Assim será possível estender seu consumo ao longo do ano, aproveitando a produção da safra, que vai de meados de novembro até fevereiro.

Nesse sentido, produtores de vários estados estão em conversações adiantadas para formação de uma associação que permita cooperação na produção e no beneficiamento da castanha, bem como compartilhamento de técnicas para aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos. “Estamos trabalhando também em iniciativas de desenvolvimento de produtos e equipamentos como uma máquina de descascar castanha, em cooperação com universidades”, explica o produtor, que integra o grupo.

Sobre a cultura
Frutífera originária do Hemisfério Norte, a castanheira pertence à família das Fagaceae. O gênero Castanea apresenta sete espécies, sendo que as castanhas “tipo portuguesa” são os frutos da Castanea sativa Mill provenientes da Europa, ou Castaneacrenata, provenientes do Japão e Coreia do Sul.

Há inúmeras possibilidades de uso de suas amêndoas, como de sua madeira que é muito resistente e rica em tanino, e muito utilizada na indústria de móveis, couros, tonéis, construção civil e produção de cogumelos; pela sua rusticidade, alta tolerância ao estresse ambiental e pela adaptação, dependendo de sua origem genética, desde climas temperados a mais quentes. “O cultivo da castanha tipo portuguesa é uma ótima opção para pequenas áreas e conservação do meio ambiente, devido ao seu porte arbóreo, às raízes profundas e ao fato de ser alimento preferido por vários animais silvestres, e de que seu florescimento exuberante atrai abelhas”, explica Rafael Pio, professor da Ufla, um dos autores do Boletim Técnico Castanha Tipo Portuguesa, da CDRS.

A produção de castanhas tem se intensificado na região conhecida como “terras altas da Mantiqueira”, que abrange municípios de São Paulo e Sul de Minas Gerais (Estados com maior produção). Castanhais instalados em regiões com menor altitude, como o Vale do Paraíba, Sudoeste do Estado de São Paulo, região de Mogi das Cruzes e na Grande São Paulo, também têm mostrado um ótimo desempenho e facilidade na comercialização, por conta da proximidade de grandes centros consumidores.

Segundo a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o total de castanha Tipo Portuguesa comercializada na entidade, em 2019, foi de 98,82 toneladas24,82 toneladas de origem nacional e 74 toneladas importadas.

Valor nutritivo
As castanhas Tipo Portuguesa promovem uma série de benefícios à saúde. “Diferentes das demais castanhas e do amendoim, que são ricos em gorduras e proteínas, elas são pobres em gorduras e ricas em fibras, o que as tornam menos calóricas. Ainda são fonte de carboidratos complexos, que atuam na estabilização da glicose sanguínea, evitando picos glicêmicos. Além disso, reduzem os níveis de colesterol e os riscos de constipação e complicações intestinais, como diverticulite”, explica Denise Baldan, nutricionista da CDRS, complementando: “Em um momento no qual as pessoas estão intensificando a busca por alimentos saudáveis, essa frutífera é uma excelente opção, pois na sua amêndoa há nutrientes que são essenciais para saúde do corpo como, por exemplo, cobre, magnésio, cálcio e ferro, que atuam diretamente no sistema imunológico”.

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