O futuro da televisão


É natural olhar para trás e festejar as muitas glórias alcançadas nestes 70 anos da televisão no Brasil. Mas nunca foi tão necessário olhar para a frente e procurar entender para onde ela está indo. A televisão vive neste momento a maior transformação em sua história. A revolução digital provocou uma disrupção nos modelos até então vigentes de criação, produção e distribuição de conteúdo. “É um período de enormes mudanças e a velocidade das mudanças se acelera. Por isso, fica mais difícil fazer projeções num horizonte muito longo”, diz Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat por 25 anos. “A gente vive uma transformação radical, isso é indiscutível, mas não há uma definição isso é indiscutível, mas não há uma definição sobre qual é o modelo que vai prevalecer”

1. A TV aberta está longe do fim

Eis uma profecia muito repetida que ainda não se cumpriu: o fim da TV aberta. Mas será que este dia chegará? Ainda que perceba que “a televisão vai para a internet; já foi e irá cada vez mais”, o professor Gabriel Priolli aposta na permanência da TV aberta. Por uma razão política. “Não consigo imaginar que os canais de TV deixem de existir. São uma mídia unidirecional, uma voz emissora falando para milhões de pessoas. O poder precisa desse tipo de ferramenta. A fragmentação e o caos da internet não atendem totalmente às suas necessidades de controle social”

 

2. Programação ao vivo é um trunfo

Um dos sinais mais evidentes da vitalidade da TV aberta é o poder de magnetizar plateias com programação ao vivo. Esta vocação da TV para o ao vivo, presente desde o seu nascimento, segue firme, registra Carlos Henrique Schroder, diretor do Grupo Globo.

“A experiência do consumo de um conteúdo ao vivo, seja de esporte ou de grandes coberturas de jornalismo, é muito rica. E no Brasil vemos esse fenômeno se repetir de maneira muito interessante no entretenimento, especialmente com os realities e com as novelas”, diz o executivoa

 

3. Fim das barreiras geográficas

Félix destaca uma outra mudança fundamental: “Uma das grandes transformações silenciosas que já aconteceu e é pouco percebida é no modo de distribuição. Muito parecido com o rádio, onde a recepção só era possível na região atingida pela área de cobertura da sua antena, o que se vê hoje é que com a internet as barreiras geográficas foram derrubadas”, diz.

 

4. Modelos mais acessíveis ao consumidor

A revolução digital, ora em curso, afeta frontalmente as operadoras de TV por assinatura. Com perda de assinantes de forma contínua desde 2015, o setor inicialmente atribuiu o problema à crise econômica. E, mais recentemente, começou a citar a migração para o streaming como um problema.

5. De nichos para indivíduos

Em resposta à TV aberta, que fala para todos os públicos indistintamente, a TV por assinatura procurou atender a nichos de audiência, com canais voltados para públicos específicos (mulheres, crianças, esportes, aventura, culinária etc). Letícia Muhana, que participou da criação de alguns canais da Globosat, enxerga um novo passo provocado pelo streaming. “Esse exercício de fazer conteúdo para nichos acabou sendo absorvido pela própria audiência. E com a ferramenta do streaming, as experiências são muito próprias, de identidade própria. É como se o usuário montasse o seu próprio canal”, diz.

6. O conteúdo independe dos meios

“A televisão já não é mais televisão”, diz Fabio Porchat, um dos criadores do Porta dos Fundos. “As televisões que a gente tem em casa são caixas que passam conteúdos vindos de todos os lugares. É televisão porque assim se convencionou, mas aquilo que a gente conhecia já não existe mais”, diz o comediante.

Entre todas as mudanças ocorridas nestes 70 anos, diz Carlos Henrique Schroder, permanece imutável, “em qualquer plataforma, o conteúdo de qualidade, que emociona, informa e contribui para uma sociedade melhor para todos, continua absoluto e é o que conecta o público”.

7. Mais liberdade para criar

Criando conteúdo para TV por assinatura, serviços de streaming e internet, o Porta dos Fundos sinaliza claramente que a aposta em ousadia e originalidade vale a pena. “Sinto que sem a competição absoluta pela audiência, você consegue ser mais livre para criar novos conteúdos, conteúdos diferentes”, diz Fabio Porchat.

8. Não-ficção em alta

Uma das pioneiras da implantação da TV por assinatura no Brasil, Letícia Muhana entende que “independentemente da tecnologia, de hoje ou daqui a alguns anos, a televisão vai trabalhar em cima do interesse de entretenimento e informação do usuário”. E qual é este interesse? Séries de ficção, claro. “A gente tem um futuro brilhante, não só por causa da influência americana, mas também porque estamos na infância ou adolescência da produção de séries no Brasil”, prevê. E séries de não-ficção. “Com o streaming, os documentários ganharam atenção maior, de Netflix e Amazon, seguindo uma tendência incipiente que apareceu no início da TV por assinatura. Hoje você vê documentários da mais alta qualidade sendo consumidos. O conteúdo de não-ficção hoje tem uma atenção e um carinho maior do usuário do que há 30 anos. A gente trabalhou bastante para que esse gênero tivesse aceitação”, diz ela.

9. A busca por relevância

Com tantas opções hoje disponíveis ao consumidor, vale observar como a principal empresa brasileira produtora de conteúdo enxerga essa “guerra” por mercado. “O nosso maior desafio é nos mantermos relevantes em meio a tantas – e cada vez mais – opções disponíveis no mercado”, diz Schroder. E um dos traços distintivos que a empresa vê como um trunfo é justamente o fato de ser brasileira: “A Globo oferece ao público uma combinação muito poderosa de uma dramaturgia que reflete brasilidade com qualidade equiparada a das melhores produtoras do mundo”, diz o executivo.

FONTE:

Mauricio Stycer – Colunista do UOL

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