FASHION: Resumo SPFW 25 anos


 

Devido ao isolamento e a pandemia, o SPFW cancelou a edição física que aconteceria em março passado. Entre dúvidas, incertezas e uma crise do mercado, optou por um formato inteiramente digital para celebrar seus 25 anos, que aconteceu entre os dias 04 e 08 de novembro.

O evento realizou uma série de ações que reverenciam a pulsão criativa plural e diversa da cidade e celebra o espaço urbano como o seu maior canal de expressão, oferecendo conteúdos inéditos e um formato democrático que promove interação com o público.

Foram mais de 500 conteúdos programados, durante 05 dias, em todos os canais do SPFW e com projeções mapeadas nas cinco regiões da cidade. Os desfiles estão disponíveis no canal oficial do YouTube do SPFW.

“O momento exige criatividade,” afirma Paulo Borges, Diretor Criativo do SPFW. “Ver o mundo com outros olhos é essencial para enxergar outras realidades e desbravar novos territórios. Em um mundo cada vez mais acelerado e volátil, as escolhas que fazemos e as direções que seguimos terão enormes impactos em nossas vidas e no mundo. Criamos uma semana dedicada às diversas manifestações culturais e que sempre encontraram no evento um espaço receptivo de conexão e visibilidade”.

As coleções foram marcadas por reutilização de tecidos de peças de coleções anteriores, peças que contam uma história e claro: muito conforto, tendo em vista todo o tempo que ficamos em Home-office e quarentena.

Além dos vídeos/desfiles e conteúdo para as redes sociais. 

Foi criado um  tratado moral  a partir de uma série de reuniões promovidas pelo coletivo Pretos na Moda e o evento São Paulo Fashion Week. Nele todas as partes presentes concordaram sobre a importância dos valores aqui pregados, servindo então como bússola de melhorias que visa um mercado mais diverso.

O tratado ficou estabelecido que exigiu que 50% dos modelos sejam negros, afrodescendentes ou indígenas e será renovado e ajustado a cada temporada tendo em vista que o mercado precisa se renovar a cada temporada.

Em meio a denúncias de racismo e contestação de padrões estéticos no mundo da moda, medida sinaliza cenário mais plural.

O anúncio foi feito na semana anterior ao evento e chamou atenção pelo pioneirismo em nível internacional. Em 2018, apenas 280 dos 976 looks desfilados na semana da moda em São Paulo foram vestidos por negros e afrodescendentes – 28% do totaL.

Esse percentual cairia para pouco mais de 10%, não fossem as dez estreias de marcas independentes, a maioria sem loja física, e as homenagens de pequenas grifes à comunidade negra. A adoção de cotas raciais pela SPFW resultou da mobilização organizada pelo coletivo de modelos Pretos na Moda. O grupo se formou em junho deste ano, quando as redes sociais foram palco para denúncias de racismo e abuso moral cometidos por estilistas. Veterana da semana de moda em São Paulo, a estilista Gloria Coelho fez mea culpa em entrevista à revista Elle, na ocasião. “O eurocentrismo cultural da sociedade brasileira formata uma certa narrativa branca. 

A transmissão online já acontecia desde 2001, mas dessa vez o foco foi na história de cada marca, buscando trazer afeto e perder a frieza das telas de celulares.

As marcas puderam se aventurar por todas as possibilidades do universo virtual para expor seus lançamentos de uma forma inédita e democrática – as transmissões ao vivo podiam ser vistas por todos os interessados, no canal do evento no Youtube e, minutos depois, no IGTV além dos canais de todas as marcas e influencers parceiros.

Porém algumas marcas e designers pareceram um tanto perdidos fora da zona de conforto do desfile ao tentar traduzir suas ideias em vídeo, contar uma história e explorar as tantas possibilidades de um projeto audiovisual.

Nesse cenário, em que todos tatearam com cautela, uns acertaram mais que outros e foram notadas certas tendências: alguns poucos preferiram ficar na zona que bem conheciam com vídeo-desfiles, tiveram os que optaram pela dança, aqueles que criaram uma narrativa e os que se sentiram à vontade para dar um tom documental e mais íntimo.

A dança foi o recurso mais visto e explorado. Ela apareceu intensa e cheia de energia na Martins. Etérea, envolvente e contida, vide apresentação da Lenny Niemeyer. Já a Another Place modernizou e introduziu um sopro de frescor ao convidar um performer para criar movimentos lânguidos e ultra sensuais.

Essa vontade de se expressar a partir de coreografias, pode ter vindo de diferentes lugares: do saudosismo da vida pré-pandemia, do hedonismo como uma forma de escape e, não menos importante, do TikTok, aplicativo que ganhou milhões de usuários, assim que foi decretado o lockdown e está infestado de posts de coreografias.

No Brasil, além da pandemia, estamos enfrentando um momento político e social nebuloso. Essa relação com os muitos Brasis e esse momento atual foi refletido em algumas apresentações de formas diferentes. Alguns estilistas conseguiram introduzir uma alta dose de realidade e, ainda assim, tocar as pessoas. Outros olharam para dentro e expressaram suas visões de forma mais lúdica.

Foi tocante ver a relação do designer Gustavo Silvestre do projeto Ponto Firme com seus colaboradores, muitos deles egressos. Isaac Silva, ao entrelaçar contos de Iemanjá com a sua tia Jacira, nos deu uma visão muito pessoal e enriquecedora. Já Airon Martin, da Misci, fez sua leitura particular das dicotomias nacionais enquanto a Handred olhou para Copacabana, o maior cartão postal do Brasil.

Ronaldo Fraga foi auto-referente, recordou sua coleção desfilada no SPFW em 2001, que homenageava a estilista Zuzu Angel – ela teve seu filho assassinado pela ditadura militar. A partir disso fez um paralelo com o cenário político atual. “Não imaginei que aqueles que mataram Zuzu estariam de volta ao poder”, disse o estilista em um momento do filme híbrido com a própria Zuzu recriada em 3D desfilando as criações do mineiro.

A LED colocou a bandeira do Brasil, ícone nacionalista, com destaque em seu filme. O designer disse que o intuito era resgatar esse orgulho brasileiro, re-apropriar, sem flertar com os ideais populistas que nos assolam. Outros signos também apareceram, como o nostálgico filtro de barro.

Sua coleção-apresentação foi intitulada “Brasileira”, mas fugiu de qualquer estereótipo ou lugar comum. Ser questionador parece algo natural para o designer, não se prender a gênero ainda mais. A cena final, em que um modelo corre usando a camiseta ‘Uma bicha para presidente do Brasil’, foi uma das mais fortes da temporada.

Algumas marcas nos fizeram valorizar as apresentações digitais, pois a forma como se expressam vai muito além da roupa e, muitas vezes, podem não ser tão bem compreendidas em um desfile. Foi o caso da Ão de Marina Dalgalarrondo, em que vimos como a estética da marca fica muito mais fácil de ser absorvida em um vídeo.

Lucas Leão foi quem mais impressionou ao digitalizar suas peças e colocá-las numa realidade virtual em 3D. O estilista questionou as noções de tempo e espaço. Interessante quando o carioca pontuou que o virtual não é sobre futuro, mas sobre o infinito e o imortal.

Um time pequeno de designers preferiu andar, ou melhor, desfilar, por uma terra bem conhecida. Os vídeos foram mais fieis ao formato desfile que já estamos acostumados. Se por um lado é pouco inventivo, por outro consegue focar no produto final, o que acaba sendo algo seguro e familiar – já que internacionalmente etiquetas gigantes, como a Prada, foram pelo mesmo caminho. A Korshi 01 foi das marcas mais bem sucedidas nesse modelo. A linguagem do video foi bem explorada e bem humorada, com as modelos alternando-se entre a passarela e a primeira fila.

Line-up:

QUARTA:4/11

14h: FERNANDA YAMAMOTO

15h: VICTOR HUGO MATTOS

16h30: IRRITA

18h: ISABELA CAPETO

19h30: ÁLG

20h: CELEBRAÇÃO #SPFW25ANOS

21h30: LENNY NIEMEYER

Victor Hugo Mattos

Em sua estreia no lineup oficial do SPFW, depois de algumas temporadas participando pelo Projeto Estufa, Victor Hugo Mattos aprofunda seu trabalho com as técnicas manuais: bordados, crochê, macramê e tricô. O novo compilado, batizado de Cálida, é uma ode ao Sol. A coleção traz vestidos, conjuntos e cabeças decorados com contas, conchas, madeira e cristais. Algumas peças são feitas do zero, outras têm um pé no upcycling.

A inspiração surgiu quando Victor Hugo viajou para a Bahia, em abril, onde ficou por vários meses desenvolvendo a coleção. Lá, deu início à pesquisa e começou a refletir sobre a força curativa do Sol. O fashion film, batizado com o mesmo nome da coleção, faz alusão à volta completa do caloroso astro, com todas as suas fases e também as incertezas.

Paulo Mendel dirigiu o filme, que tem trilha sonora de Alexandre Otrovsky e um poema recitado pela cantora Letrux. Renata Correa cuidou do styling e Angélica Moraes, da beleza. “Voltando na nossa multilinguagem, nesse desejo, quisemos incluir no vídeo a inserção desses materiais que eu mesmo captei durante esses meses que passei lá na Bahia”, compartilhou o estilista.

Irrita

Rita Comparato retornou ao São Paulo Fashion Week com a Irrita, etiqueta lançada em 2017. No vídeo da coleção, as modelos arriscam vários passos como se estivessem isoladas em suas próprias casas, ao mesmo tempo em que interagem com as roupas. As estampas, detalhes mais marcantes da grife, são abstratas e têm linhas marcantes. Aparecem em cores como vermelho, marrom, verde-militar, azul, bege, lilás e laranja.

A própria Rita dirigiu o desfile performático, com coreografia de Clarice Lima e styling de Dudu Bertholini. Segundo a marca, a dança reverencia “o papel das roupas como um objeto de mediação entre os nossos corpos – o meu corpo e o corpo do outro”.

Na live após a apresentação do vídeo, a designer comentou sobre a oportunidade de poder usar todo seu potencial criativo na label. “Esse DNA autoral de fazer uma modelagem e uma estampa que eu acredito fica difícil quando você está em outras empresas”, observou. A coleção inclui pantalonas, vestidos que lembram uma pegada oriental, camisas amplas e calças.

Isabela Capeto

O apartamento de Isabela Capeto no Rio de Janeiro, onde nasceu a coleção Brotar, foi também o cenário para o filme que exibe as novidades da marca. Estampas vívidas, especialmente nas cores vermelho e azul, dão um tom alegre ao trabalho, assim como os bordados. Mangas bufantes mostram que vieram para ficar e acrescentam romantismo às peças, confeccionadas em tecidos como algodão bio, sarjas tinturadas, jeans, cambraia de linho, voil linho e malha.

Aqui, também, a dança é eleita como forma de expressão. Cinco bailarinos desdobram passos e exploram o apartamento enquanto vestem as novidades, que são leves e tem um quê bem brasileiro. O vídeo tem direção de Luisa Arraes e Caio Blat, direção de fotografia e edição de Antônio Arraes e styling de Felipe Veloso.

Em entrevista realizada com Paulo Borges, ao fim da apresentação, a estilista revelou que o formato see-now-buy-now (veja agora, compre agora) era um desejo antigo. Por isso, os produtos já estarão disponíveis a partir desta quinta-feira (5/11) na multimarcas Pinga, em São Paulo, em um espaço exclusivo para a marca Isabela Capeto.

ÀLG

O rosa do moletom conversa diretamente com as cores da calça da ÀLG, etiqueta estreante no SPFW

Alfaiataria street, estampas de correntes, jaquetas com duas cores e chapéus de jardineiro são destaques da nova coleção da ÀLG, outra etiqueta estreante do dia. Entretanto, de todas as peças apresentadas, a que provavelmente chama mais atenção é o protetor de queixo. Em live do SPFW, o estilista Alexandre Herchcovitch explicou que esse detalhe é inspirado em esportes de rua, que usam acessórios de segurança.

Modelagens oversized e as peças de mangas longas com aspecto caído, características da marca, aparecem nos moletons. Enquanto isso, as bolas têm tamanho maxi, com material transparente e formato de mochila. As bermudas de ciclista também marcam presença, sejam elas estampadas ou básicas. É possível notar possível inspiração em marcas como Louis Vuitton, Hermès e Gucci.

Para sua estreia no evento, a marca gravou um desfile no Farol Santander, ponto turístico de São Paulo. Assim como na À La Garçonne, Fábio Souza é o diretor criativo e Alexandre Herchcovitch, seu marido, desenha as coleções.

Lenny Niemeyer

Lenny Niemeyer traz a coleção Verão 2021 com inspiração botânica para sua marca homônima de moda praia. Segundo a grife, todo o conceito partiu de uma sessão de fotos experimental com flores naturais e plásticos refletivos. Como resultado, estampas florais aparecem em maiôs.

 

QUINTA, 5/11

14h: KORSHI 01

16h: PONTO FIRME

18h: A.NIEMEYER

19h30: ALEXANDRE HERCHCOVITCH, 50 ANOS, ESTILISTA

20h30: AMIR SLAMA

21h30: ANOTHER PLACE

Korshi01

Pedro Korshi declarou que conseguiu expressar mais a identidade da sua marca na apresentação virtual do que antes, nos desfiles presenciais do Projeto Estufa. Quando ele revela que foram criadas apenas 10 peças, mas que elas se metamorfosearam e multiplicaram tornando-se inúmeras outras, você entende o raciocínio do diretor criativo.

Macacão que vira saia, casaco, capa; calças que aparecem como tops; vestidos que são resultado da união de duas peças. Essa versatilidade é uma estratégia não apenas criativa, como um mecanismo inteligente e ultra conectado ao momento atual, em que termos como minimalismo e multifuncionalidade são repetidos aos montes.

A apresentação virtual ainda pôde mostrar uma faceta de Pedro mais humorada, já que o vídeo retrata todos os esteriótipos da moda sem tirar a seriedade de suas criações. Um jogo minucioso, onde você questiona até que ponto ele constrói ou desconstrói suas peças.

 

Ponto Firme

O projeto capitaneado por Gustavo Silvestre apresentou sua terceira edição no evento e, pela primeira vez, como bem disse o estilista, tiveram a oportunidade de revelar um pouco mais sobre como se dá o processo antes do desfile, não apenas o criativo, como também a relação no dia a dia com os participantes, muitos deles egressos.

O vídeo, que misturou um ar documental com toques de fashion film, humanizou o projeto, com sensibilidade e delicadeza, mas não dando as costas para a realidade. A multimarca NK Store cedeu peças, que ganharam bordados, novos acabamentos e texturas. O crochê, técnica tão explorada atualmente, foi o grande protagonista. Destaque para os vestidos-camisola com rendas delicadas, repletos de transparência e babados, que remetiam à lingerie de uma forma não-óbvia. Uma verdade sincera de mãos dadas com a poesia.

A.Niemeyer

A.Niemeyer encontrou uma forma sofisticada para mostrar sua nova coleção, sem parecer ultra comercial. No vídeo de Hick Duarte, um casting diverso exibiu as criações de Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff, mostrando que a marca entende bem a mulher (e não a menina) com quem se comunica.

Em uma cartela formada principalmente por terrosos e neutros, as peças misturavam diferentes técnicas e materiais. O conforto proposto pela etiqueta conhecida por ressignificar o loungewear, era sentido em cada take – e enfatizada pela trilha criada por Marcelo Gerab. Aguçando os sentidos, a vontade era de tocar nas peças caneladas e repletas de nervuras. O styling foi de Renata Correa e a direção de desfile, Augusto Mariotti.

Amir Slama

A letra da música “Dura na Queda” interpretada por Elza Soares ao fundo dava o tom otimista da coleção de Amir Slama, inclusive, o estilista fez questão de enfatizar que queria que sua apresentação fosse um sopro de leveza em meio a esse momento marcado por tantos fatos caóticos e também se referindo a pandemia.

Na prática: maiôs ultra cavados, biquínis com recortes e formas geométricas na modelagem. Algumas das peças que estavam no acervo da marca foram recicladas e ganharam novos ares e decotes. Em comum, a estampa de sol que apareceu em quase todos os looks.

Another Place

Another Place fechou o segundo dia desta edição do São Paulo Fashion Week com uma coleção audiovisual que fala de algo em extinção durante a pandemia: o toque humano. O filme “Broken Promise for Broken Hearts”, com direção criativa de Rafael Nascimento, mostra com saudosismo um tempo em que não precisávamos manter o distanciamento social. O clipe foi filmado na garagem do hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo (SP), e protagonizado por Cadu Libonati e dirigido por Henrique Sauer.

 

SEXTA, 6/11

14h: LUCAS LEÃO

15h: LED

16h: MISCI

18h: RENATA BUZZO

19h30: JULIANA JABOUR

20h30: HANDRED

21h30: JOÃO PIMENTA

 

Lucas Leão


Quem mais levou a palavra digital ao pé da letra foi o carioca Lucas Leão, o designer lançou uma apresentação que segue a máxima “o futuro é agora”. Em “Aether”, as roupas surgem de diferentes dimensões e vão além da realidade, para essa experiência as peças foram criadas totalmente em 3D e inseridas em um ambiente virtual.

Logo após a exibição, Lucas explicou que o intuito foi o de traduzir a ideia de mundo digital como algo infinito, eterno e imortal. A partir de sábado (07.11) o primeiro drops estará disponível para compra, assim como um filtro no perfil do Instagram da marca, onde as peças poderão ser vistas em 360 graus.

Veja todos os looks

LED

 

Célio Dias e a sua LED já participaram cinco vezes do SPFW, mas essa é a primeira vez que integram o line-up oficial. Nome em destaque por traduzir com autoria e delicadeza questões como performance de gênero, identidade e temas políticos, o mineiro apostou no crochê, que é sua técnica-chave e assinatura, misturando com alfaiataria, tons fortes e pontuando com estampas tie-dye.

Batizada “Brasileira”, a apresentação foi sopro de energia, movimento e liberdade. Mesmo não sendo a primeira vez que Célio apresenta uma coleção virtualmente, a novidade mostra uma evolução de estilo e imagética. O styling foi assinado por Thiago Ferraz e vídeo dirigido por Carlos Queiroz.

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Misci

Uma das estreias mais aguardadas desta edição do #SPFW foi sem sombra de dúvidas a Misci, do mato-grossense Airon Martin. “Brasil Impúbere” é uma leitura que mesmo sendo muito pessoal, faz o espectador identificar todos os códigos ali registrados. Inúmeras dicotomias do Brasil são mostradas com uma simplicidade lapidada e cerebral.

As linhas pueris dos longos revelam e escondem, a cartela remete ao cerrado, a caatinga e a natureza. Menção especial ao blazer estampado criado em parceria com Paula Scavazzinni. O Brasil de Airon é despido de alegorias, exuberante ao seu modo, e repleto de mensagens, nem sempre óbvias. Emilly Nunes é quem estrela, se firmando como um dos rostos da temporada. Veja todos os looks

 

Renata Buzzo


Também estreante nesta edição Renata Buzzo intitulou sua coleção de “Estudos Melancólicos”, a ideia e conceito nasceram a partir de um texto escrito por ela – esse processo criativo é algo frequente, revelou a designer em conversa com o FFW.

Sua apresentação teve um quê de thriller psicológico, fortalecido pelo texto que refletia sobre a pandemia, além da trilha dramática. A etiqueta que é vegana, feita apenas sob-medida e lixo zero, exibiu uma série de vestidos esvoaçantes, com mangas levemente bufantes e texturas ornamentais.

Veja todos os looks. 

 

Juliana Jabour

A cartilha de Juliana Jabour é muito bem definida, em seu retorno ao SPFW, ela mostrou que continua fiel à sua estética. Além dos elementos esportivos, dos famigerados moletons e mini comprimentos, há várias peças com volumes estratégicos, flertando sempre com o streetwear e inserindo elementos femininos, em uma dualidade jovem e cheia de frescor.

Mesmo tendo contado ao FFW que achou a apresentação virtual desafiadora, a estilista conseguiu exteriorizar tanto seus códigos, quanto revelar detalhes de peças-chave da coleção de verão 2021. As fotos acima são de João Arraes e o vídeo foi assinado por Gui Yoshida.

Veja todos os looks

 todos os looks.

Handred

A Handred de André Namitala se voltou para um universo que – literalmente – habita, o bairro de Copacabana, que emprestou para a apresentação não só o cenário, como também seu nome, que batiza a coleção.

Menos boêmia e decadente, a Copacabana imaginada por André é quase um sonho tropical, onde nostalgia e realidade se misturam, assim como desejos solares e outros sentimentos ocultos. Tudo está ali: robes amplos, plissados, linhos e sedas, que se confundem com o branco e suavidade das nuvens. Atenção especial para a estampa que imita o piso da Galeria Menescal. A trilha de Maria Luiza Jobim e o styling de Daniel Ueda são dois pontos altos. Como diz o release em tom otimista: “O verão chegará, apesar de tudo”… ainda bem!

Veja todos os looks da Handred

 

João Pimenta


João Pimenta encerrou o terceiro dia de desfiles com uma imagem forte, robusta e sombria, assim como Renata Buzzo, o estilista enveredou por um caminho menos solar e otimista, se comparado com as outras marcas. Sua coleção é disruptiva – usando o termo mais ouvido nesta edição virtual do SPFW –, e também anárquica, transgressora e distópica.

O futuro e o presente para João são agressivos, como mostram os spikes aplicados na alfaiataria e nos xadrezes tartan. Mesmo todos os modelos tendo usado máscaras, que escondiam não só suas identidades, como a visão, podiam ser vistos nos looks diferentes olhos bordados, muitos deles com cristais que faziam alusão à lágrimas, talvez? Instigante, questionador e, de certa forma, brutal.

 

SÁBADO, 7/11

14h: MARTINS

15h: CACETE

16h30: MODEM

18h: ÃO

1 9h30: AMAPÔ

20h30: FREIHEIT

21h30: LINO VILLAVENTURA

 

Tom Martins

Existe um movimento que, ao invés de buscar incessantemente por uma nova estética, prefere fortalecer uma imagem, lapidá-la e explorá-la com destreza e cuidado. Esse é o caso de Tom Martins.

Quem acompanha o trabalho do designer, sabe que desde sua primeira coleção, ele brinca com proporções, sempre explorando modelagens afastadas do corpo. As listras e riscas-de-giz agora dividem o protagonismo com outras padronagens e estampas, como as de motivo animal e os xadrezes em tamanho máxi. Interessante ver Tom saindo dos tecidos planos e se arriscando – o vestido dourado é um ótimo exemplo desse exercício, que marca sua estreia na SPFW.

Veja todos os looks. 

Cacete.co

 

“Isso não é um desfile”, escreveram Raphael Ribeiro e Tiago Carvalho, nomes por trás da Cacete Company, no perfil da marca minutos antes da exibição. A coleção chamada “Arquivo Zero” simboliza um retorno às origens da etiqueta, que nasceu e cresceu por conta das peças de underwear. A apresentação super voyeur foi estrelada por amigos e parentes da dupla criativa, e contou com os vocais de Liana Padilha, da banda Noporn.

 

Modem

“O que representa o tempo?”, foi a partir dessa indagação que a Modem criou sua apresentação virtual. E a resposta veio de diferentes lugares, tendo a história da marca como fio condutor – que, vale dizer, comemora 5 anos de existência, em 2020.

Para isso, o diretor criativo André Boffano e o stylist João Victor Borges, olharam para todas as coleções e compuseram um pout-pourri de 15 looks, todos com o supra sumo da marca: aviamentos que modernizam a alfaiataria, assimetrias que dão leveza aos tecidos planos e mix de materiais preferidos, como o couro. O vídeo é de Júnior Scoz e a direção de arte de Pablo Quoos.

 

Ão

Muitos têm questionado sobre o novo formato das apresentações, com os seus prós e contras. Mas ao deparar com uma marca como a Ão, vemos que ter essa liberdade de dividir um olhar e uma história, além da roupa, é algo fundamental.

Desde sua estreia Marina Dalgalarrondo, nome por trás da Ão, desafia os limites da silhueta e mesmo tendo uma imagem que flerta com o edgy, suas peças possuem modelagens elaboradas e são inspiradas em indumentárias clássicas, como corsets. Porém, há sempre uma inquietude e uma estranheza, essa filosofia foi transmutada para o filme “Serião”, dirigido por Vitoria de Mello Franco, com imagens que misturam delírio, fantasia, tecnologia e natureza.

 

Amapô

A Amapô conseguiu trazer toda a energia – e a vontade de se divertir – das suas apresentações presenciais para o digital. Carolina Gold e Pitty Taliani, diretoras criativas, sempre mostraram um lado hedonista, performático e foram fiéis a essas características, mesmo com a mudança de formato.

O jeans sem lavagem, que é um símbolo da marca, estava ali como protagonista, envolvendo “corpas femininas pulsantes”, como elas escrevem no release. Vale dizer que diferente das outras etiquetas, a Amapô mostrou uma coleção de inverno, mas as parkas, kimonos de sarja e casacos com capuz podem ser usados independente da estação. O styling foi assinado por Dudu Bertholini, amigo de longa data da dupla.

Veja todos os looks.

 


Freiheit

Freiheit foi um dos pontos altos do quarto dia do SPFW. A etiqueta de Marcio Mota debutou no evento com a “Flagwear Collection” que, como o nome propõem, foi criada tendo bandeiras (e sua forma retangular) como mote. A inspiração veio também dos uniformes, o que explica a pegada utilitária – e fica ainda mais evidente nos looks tingidos de azul e laranja.

Mesmo tendo desfilado belos tricôs de ponto largo e moletons, a marca explicou no release que não se prende a estações e é adepta do slow fashion – tanto que o lançamento é anual e não semestral, trimestral como a indústria está acostumada. O styling foi assinado por Alexandre Herchcovitch.

Veja todos os looks aqui. 

 

Lino Villaventura

Com Ney Matogrosso declamando “Bloco na Rua” ao fundo, a apresentação de Lino Villaventura foi dramática e fiel ao universo do estilista. O fotógrafo Miro assinou o fashion film – e, vale ressaltar, que este é o primeiro vídeo feito por ele.

Se normalmente seus desfiles já são cheios de encenação, performáticos e alegóricos, nada mais natural que Lino explorasse ainda mais esse lado lírico. O mix de texturas, a cartela vibrante e os patchworks tão característicos de seu trabalho apareceram mais uma vez.

 

DOMINGO, 8/11

14h: GLORIA COELHO

15h30: APARTAMENTO 03

17h: ALUF

18h30 ANGELA BRITO

19h30: NERIAGE

20h30: ISAAC SILVA

21h30: RONALDO FRAGA

 

Gloria Coelho


Para construir sua coleção em 2020, Gloria Coelho olhou para o século passado. Parece distante, né? A estilista afeita ao retro futurismo, pegou diferentes interpretações sobre o tema desde 1970 até a chegada do ano 2000. A bolsa prateada, que vira colete alongado, é uma peça que resume bem o lançamento de verão 2021 da marca.

Apartamento 03

Em março passado, Luiz Claudio estava trabalhando em uma nova coleção, mas assim que a pandemia se instaurou, o estilista preferiu adiar o lançamento. “As roupas foram embaladas, e lá ficaram guardadas à espera dos corpos”, revelou em seu release.

Intitulada “Breu”, a apresentação da Apartamento 03 resumiu o sentimento desconfortável do isolamento e todas as questões que surgiram desde então. Para materializar essa sensação, o estilista convidou Luiz Matoso e Paulo Raic, que assinam o roteiro, norteado pela obra de Saramago. Em conversa com o FFW, Luiz disse que a coleção foi inteiramente reformulada. São interessantes os plissados e o macacão com babados aplicados.

Aluf 


Mesmo jovem, a estética da Aluf já é facilmente reconhecida. Ana Luisa Fernandes trabalha com destreza nos volumes, na modelagem ampla e com os tecidos encorpados. O filme “Lugar Comum” é uma boa extensão dos seus códigos, nele há interferências 3D, efeitos especiais e outros atrativos, porém continuamos olhando para suas roupas com detalhes preciosos e acabamentos cuidadosos.

A manga bufante do vestido listrado mesmo surgindo no virtual faz a gente desejar ver de perto. O mesmo acontece com os looks que carregam uma trama vazada e ultra delicada. Como bem disse Luisa logo após a apresentação, o digital não deve competir com a realidade, mas completá-la.

Veja todos os looks.

Angela Brito

Angela Brito compartilhou uma perspectiva bem pessoal de Cabo Frio, arquipélago localizado no noroeste da África. O Panu di terá, que consiste em um trama elaborada com texturas impressas pelo próprio tear, é um dos protagonistas e também a espinha dorsal da coleção, chamada “Identidade”.

É enriquecedor ver enaltecimento desse ofício ancestral africano, especialmente nessa edição do SPFW, onde tantas marcas se dedicaram a técnicas manuais. Mesmo tendo resgatado a indumentária da região, a estilista modernizou essas imagens e símbolos com zíperes, aviamentos e modelagens evasê.

Veja todos os looks.

Neriage

De assistir sem piscar os olhos, assim que ficamos com Lampejo, apresentação da Neriage de Rafaella Caniello, que se inspirou no livro “Minha casa é onde estou” de Igiaba Scego. Se no vídeo assinado por Paulo Vainer ficamos envolvidos com os movimentos e a cartela vibrante, nas fotos de Mariana Maltoni conseguimos visualizar com mais clareza o desejo da estilista de explorar o conceito de casa.

Os plissados tão característicos da marca apareceram – o casaco-vestido azul royal é um belíssimo exemplo dessa assinatura. O look com top bicolor e calça com nervuras também merece uma menção especial. Os máxi chapéus foram co-criados em parceria com as mulheres indígenas da etnia Warao. Vale dizer que as frases que aparecem na apresentação foram escritas pela artista visual Verena Smit.

 

Isaac Silva

Isaac é fiel à sua verdade e generoso em compartilhar sua visão de mundo. Esse mundo é inclusivo, colorido, poético. Mulheres sempre inspiraram o designer e nesta temporada, ele olhou para uma figura conhecida entre os brasileiro, Iemanjá, e outra bem pessoal, sua tia Jacira. A história repleta de simbologia e com um olhar intimista se mistura e ele insere com suavidade sua vivência sobre o tema.

Crenças, família, sentimentos… tão difíceis de materializar para alguns, parecem ser algo simples para Isaac. A alfaiataria alongada em tons claros deu às caras, são especiais os vestidos com estampas coloridas, quase uma pop art com sotaque baiano. Sua apresentação teve um tom documental, mas mostrou todas as suas apostas criativas com clareza.

 

Ronaldo Fraga

 

O estilista mineiro fez uma apresentação onde a moda, o legado de Zuzu Angel e, consequentemente, a sua carreira foram auto-referenciadas. Famoso por sempre inserir elementos lúdicos, Ronaldo pôde explorar isso ainda mais nesta edição, que foi composta apenas por formatos digitais.

A partir de um depoimento pessoal e tendo como ponto de partida a coleção que desfilou há 20 anos, no SPFW, o vídeo reuniu um ótimo conteúdo histórico e proporcionou um encerramento que causou emoção entre os expectadores, que acompanharam a exibição ao vivo no canal do evento.

Em um momento em que a moda não habita só um lugar, as apresentações digitais se mostram ferramenta importante dentro de um composto de comunicação sem funcionar como um substituto para os desfiles presenciais. Só reforçam o quão importante é pensar no que faz sentido para cada meio e formato a fim de atingir e dialogar com uma audiência cada vez mais pulverizada.

 

Para mim, que acompanho de perto todas as temporadas da SPFW desde 2015, acompanhar tudo no “conforto do meu lar” foi bem prático e confortável.

Claro que senti muita falta do burburinho de estar lá pertinho, mas acredito que devems tirar o que há de bom de todas as situaçoes.

Me surpreendi e me impressionei com a criatividade dos estilistas na apresentção de suas coleções.

Adorei ver a dança inserida em algumas das apresentações.

Meus parabéns a todos os estilistas e suas equipes que se reinventaram e conseguiram dar continuidade a este evento tão importante da moda.

Contnando os dias para poder ver tudo isso de perto novamente. 

Até a próxima temporada!

 

FONTE:

Site oficial da SPFW

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ViCk Sant' Anna

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